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Quais os anti-histamínicos orais mais adequados durante a amamentação?

  • Breves Questões Terapêuticas
30 Maio 2022
Quais os anti-histamínicos orais mais adequados durante a amamentação?
 
  • A evidência sobre o uso de anti-histamínicos durante a amamentação é escassa. 
  • Os anti-histamínicos de segunda geração são considerados de primeira escolha.
  • É importante vigiar o surgimento de efeitos adversos no lactente. 

A descontinuação precoce da amamentação tem como uma das principais causas o receio acerca do risco para o lactente aportado pela medicação materna. Contudo, os benefícios da amamentação irão, na maioria dos casos, superar os potenciais riscos da exposição do lactente à medicação.1

Cerca de 20-30% das mulheres têm doenças alérgicas que requerem terapêutica farmacológica durante a gravidez e a amamentação.
1 Os estudos acerca do uso dos anti-histamínicos durante a amamentação são muito limitados, não existindo dados de longo prazo acerca da exposição.2  Devido à escassez de evidência acerca da sua segurança, a informação dos laboratórios muitas vezes contraindica o seu uso.1 Contudo, a maioria dos anti-histamínicos mais recentes serão provavelmente compatíveis com a amamentação,1,2 com a devida precaução e monitorização do lactente.2

Os fármacos de primeira escolha são os anti-histamínicos de segunda geração, como a cetirizina e a loratadina,1-4 dado os seus baixos níveis de transferência para o leite materno, melhor perfil de efeitos adversos1 e extensa experiência com o seu uso na amamentação, apesar de a informação publicada ser limitada.2 Alguns autores incluem também a fexofenadina4,5 e a desloratadina.5 Outros referem que estas, bem como a levocetirizina, podem ser usadas durante a amamentação quando os fármacos de primeira escolha não sejam adequados dado que, apesar de não terem sido diretamente estudados na amamentação, a informação poder ser extrapolada de outros anti-histamínicos e não ser, por isso, expectável a presença de quantidades significativas no leite.2 

Cetirizina. É excretada no leite materno em quantidades muito reduzidas.1,2,6 Após uma dose de 10 mg, o nível no leite foi estimado em 1,77% da dose materna ajustada ao peso.1,2 Com base neste valor, calcula-se que um lactente em amamentação exclusiva ingira uma dose de 3,1 µg/kg/dia.1 Doses altas ou uso prolongado podem provocar sedação no lactente,3 mas não foram reportados efeitos adversos,2,6 quer a curto ou a longo prazo. É considerada por algumas sociedades científicas como segura durante a amamentação.6

Loratadina. Excretada em quantidades não significativas no leite materno.6 Um estudo realizado com a administração de uma dose materna de 40 mg, bastante superior à dose habitual, concluiu que um lactente ingeriria no máximo 1,1% da dose materna ajustada ao peso de loratadina e do seu metabolito desloratadina,1,2 o que equivale, para um lactente em amamentação exclusiva, a uma dose de 6,8 µg/kg/dia. Neste estudo não houve reporte de efeitos adversos,1 mas tem havido relatos escassos de sedação nos bebés.2 É considerada por algumas sociedades científicas como compatível com a amamentação.6

Fexofenadina. É excretada no leite materno em quantidades clinicamente não significativas.6 É um metabolito ativo da terfenadina.2 Um estudo efetuado com a administração de 120 mg de terfenadina (60 mg 12/12h) concluiu que a dose máxima de fexofenadina ingerida pelo lactente seria de 9 µg/kg/dia,5 equivalente a 0,45% da dose materna.2,5 Num estudo no qual foi administrada terfenadina a 25 mães a amamentar, houve reporte de irritabilidade ligeira em três lactentes.2 É considerada pela Academia Americana de Pediatria como geralmente compatível com a amamentação.6 

Levocetirizina. Não existem dados publicados acerca da sua excreção no leite.6 É um enantiómero da cetirizina,2,6 pelo que a sua estrutura é praticamente idêntica.2 Com base na evidência disponível e experiência de uso da cetirizina, prevê-se a excreção de pequenas quantidades no leite2,6 e é improvável a ocorrência de efeitos adversos.2 

O risco de efeitos adversos com o uso de anti-histamínicos é superior em bebés mais novos, em amamentação exclusiva, e com a utilização de doses elevadas e tratamentos prolongados. Caso a mãe utilize um anti-histamínico, há que vigiar o lactente quanto ao surgimento de efeitos adversos como sedação, irritabilidade, boca seca e alterações no padrão alimentar.2 

No que diz respeito ao efeito dos anti-histamínicos na produção de leite, os dados são discrepantes e a evidência é muito escassa,2 proveniente apenas de estudos realizados com anti-histamínicos sedativos de primeira geração;1,2 existe um relato de redução na produção de leite após toma de 10 mg de loratadina.2 Assim, considera-se que nas doses terapêuticas normais é improvável que os anti-histamínicos afetem a produção de leite materno, especialmente quando esta se encontre estabelecida,1,2 i.e. 6-8 semanas pós-parto.2 No entanto, caso sejam usados em associação a um simpaticomimético, podem reduzir a produção de leite.3



Referências bibliográficas

1. Ngo E, Spigset O, Lupattelli A, Panchaud A, Annaert P, Allegaert K, Nordeng H. Antihistamine use during breastfeeding with focus on breast milk transfer and safety in humans: A systematic literature review. Basic Clin Pharmacol Toxicol. 2022 Jan; 130(1): 171-181. doi: 10.1111/bcpt.13663.

2. Dickson N. Selecting and using antihistamines during breastfeeding. Midlands and East Medicine Advice Service (Midlands Site) & UK Drugs in Lactation Advisory Service. Published 27 January 2022 [acedido a 12-05-2022]. Disponível em:
https://www.sps.nhs.uk/articles/selecting-and-using-antihistamines-during-breastfeeding/

3. Therapies for allergic rhinitis in lactating women – UpToDate®. Graphic 58772 Version 7.0. 2022 [acedido a 12-05-2022]. Disponível em:
www.uptodate.com

4. Jones W, and The Breastfeeding Network. Antihistamines and Breastfeeding. Sept 2019 [acedido a 12-05-2022]. Disponível em:
https://www.breastfeedingnetwork.org.uk/wp-content/dibm/2019-09/Antihistamines%20and%20Breastfeeding.pdf

5. So M, Bozzo P, Inoue M, Einarson A. Safety of antihistamines during pregnancy and lactation. Can Fam Physician. 2010 May [acedido a 12-05-2022]; 56(5): 427-9. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2868610/pdf/0560427.pdf

6. e-lactancia.org. APILAM: Asociación para la promoción e investigación científica y cultural de la lactancia materna; 2002 actualizado 08 may 2022 [acedido a 12-05-2022]. Disponível em:
https://e-lactancia.org


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