Política de Cookies

Este site utiliza Cookies. Ao navegar, está a consentir o seu uso. Saiba mais

Compreendi
Imaem noticias

Artigos

Como minimizar o risco de reações adversas graves ao alopurinol?

  • Breves Questões Terapêuticas
28 Novembro 2024
Como minimizar o risco de reações adversas graves ao alopurinol?
 

- O alopurinol está associado, raramente, a graves reações de hipersensibilidade.

- Foram identificados fatores predisponentes para a sua ocorrência.

- Os utentes devem ser informados sobre os sinais de alerta a que devem estar atentos.




O alopurinol é geralmente considerado a terapêutica de primeira linha da hiperuricemia e prevenção de exacerbações da gota.1,2
Apesar de raras, têm sido reportadas em consequência do seu uso síndromes de hipersensibilidade,1-5 também conhecidas como reações adversas cutâneas graves,1,3,4 que afetam aproximadamente 0,1-0,4% dos indivíduos tratados2,4  e que podem ter um desenlace fatal,2-4 apresentando uma taxa de mortalidade de 20-30%.2,4,5 Entre as reações reportadas incluem-se necrólise epidérmica tóxica, síndrome de Stevens-Johnson, exantema medicamentoso com eosinofilia e sintomas sistémicos – síndrome de DRESS e síndrome de hipersensibilidade ao alopurinol (SHA).1-5 Estas síndromes manifestam-se com rash,3-5 febre, disfunção renal e hepática, eosinofilia, leucocitose,2-4 linfócitos atípicos,3,4 entre outros. Apesar de alguns autores considerarem a SHA como síndrome DRESS associada ao alopurinol,1,2,5 outros consideram que é uma entidade com caraterísticas distintas.3 

Estas reações adversas ocorrem tipicamente nas primeiras semanas ou meses de tratamento com o alopurinol e a sua incidência é superior na presença de alguns fatores predisponentes, que podem estar relacionados com a posologia ou com caraterísticas próprias do utente.1-5 

Posologia
Iniciar o tratamento com uma dose elevada de alopurinol tem sido associado a maior risco de reações de hipersensibilidade,1,3-5 pelo que este deve ser iniciado numa dose nunca superior a 100 mg por dia,1-5 com ajuste gradual.2,3,5 Caso exista diminuição da função renal, a dose inicial deverá ser inferior – 50 mg.1-5 A dose de alopurinol é muito variável e deve ser individualizada, de acordo com a tolerância da pessoa e do nível sérico de uratos pretendido.2 Deverá ser gradualmente titulada até que seja atingido o valor sérico alvo de urato2,4 ou a dose máxima recomendada.4 

Fatores genéticos
A presença do antigénio leucocitário humano (HLA) B*58:01, alelo mais frequente em indivíduos que têm ascendência asiática1-5 e africana,1,3,4 foi fortemente associado a maior risco de reações de hipersensibilidade. Alguns autores e sociedades científicas recomendam que indivíduos com maior probabilidade de possuírem o alelo HLA B*58:01 sejam testados previamente ao início da terapêutica com alopurinol e que este seja evitado caso possuam este haplótipo.1-5 Contudo, alguns dados sugerem que possa ser necessário o envolvimento de outros fatores para desencadear reações adversas graves nestes indivíduos.3

Comorbilidades e interações
A presença de insuficiência renal (IR) está associada maior a maior propensão de desenvolver reações adversas graves,1-5 especialmente caso não exista um ajuste adequado da dose e ocorra a toma simultânea de diuréticos.1,4 A semivida do metabolito ativo do alopurinol – oxipurinol, está aumentada na IR e crê-se que os seus níveis plasmáticos estejam relacionados com maior risco deste tipo de reações.1,3,4 
O uso concomitante de diuréticos tiazídicos1-4 e da ansa1,3,4 é um fator independente para risco aumentado de reações graves ao alopurinol, devido ao aumento das concentrações séricas de oxipurinol.3,4 Por outro lado, os diuréticos aumentam os níveis séricos de urato.2-4 

Além do risco associado à interação com os diuréticos, requer ainda precaução o uso concomitante do alopurinol com a amoxicilina e a ampicilina, devido ao risco aditivo de desenvolvimento de rash cutâneo.1,4 

Sinais de alerta
O aparecimento de um rash cutâneo, mesmo que ligeiro, pode constituir um prenúncio do desenvolvimento de uma reação adversa severa, pelo que os doentes devem ser instruídos a descontinuar imediatamente a toma de alopurinol caso manifestem reações cutâneas,1,2,4 ou qualquer outro sinal que possa indicar uma reação de hipersensibilidade,1,4 especialmente nas primeiras semanas ou meses de tratamento1-3 ou após um aumento de dose.2,3 Caso se desenvolva uma reação de hipersensibilidade, a descontinuação precoce do alopurinol pode melhorar o prognóstico.2-4

Apesar da raridade deste tipo de reações, o número global de casos reportados é elevado. Por este motivo, o uso do alopurinol só deve ocorrer quando exista uma indicação clara e clinicamente apropriada e sejam implementadas medidas que assegurem o seu uso correto.3 É importante que os farmacêuticos assegurem a adequada educação dos doentes acerca da possibilidade de ocorrência deste tipo de reações e da necessidade de interromper imediatamente o tratamento perante um sintoma suspeito.1,3 



Referências bibliográficas:

  1. Perez-Ruiz F. Pharmacologic urate-lowering therapy and treatment of tophi in patients with gout. UpToDate®, topic last updated: Jun 11, 2024.
  2. Allopurinol- Safe Prescribing - Dose Up. SafeRx Bulletin No: 0182-01-104. Issued March 2019; Review: March 2022 [acedido a 20-11-2024]. Disponível em: http://www.saferx.co.nz/assets/Documents/full/allopurinol.pdf
  3. Stamp LK, Barclay ML. How to prevent allopurinol hypersensitivity reactions? Rheumatology (Oxford). 2018 Jan 1;57(suppl_1):i35-i41. doi: 10.1093/rheumatology/kex422.
  4. McEvoy GK. ed. American Hospital Formulary Service Drug Information 2023. Bethesda, American Society of Health-System Pharmacists, 2023.
  5. Yaseen W, Auguste B, Zipursky J. Allopurinol hypersensitivity syndrome. CMAJ. 2023 Apr 3;195(13):E483. doi: 10.1503/cmaj.221575.