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Infeção pelo vírus Mpox | Atualização
21 Agosto 2024
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e, especificamente na região europeia, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC), mantêm estreita vigilância sobre a situação epidemiológica da infeção pelo vírus Mpox, anteriormente designado vírus Monkeypox.
Este vírus possui dois clades geneticamente distintos, denominados I e II, ambos com subclades a e b. O clade I tem sido historicamente associado a sintomas mais graves e a maior mortalidade comparativamente ao clade II. O subclade IIb, caraterizado por sintomatologia mais ligeira e menor mortalidade, é o responsável pelo surto iniciado em 2022 em múltiplos países e pela larga maioria dos casos que continuam a ser reportados a nível internacional.
Com exceção de um ligeiro aumento em alguns países, o número de casos notificados na Europa tem-se mantido estável, tendência que também se verifica em Portugal. De acordo com os dados recolhidos pela OMS, desde janeiro de 2022 até junho de 2024 foram reportados em Portugal 1193 casos de infeção pelo vírus mpox; entre 01/06/2023 e 31/07/2024, foram notificados no sistema nacional de vigilância epidemiológica – SINAVE, 244 casos confirmados.
A nível global, verifica-se uma tendência para a diminuição do número mensal de casos reportados, apesar de a OMS admitir que este facto pode dever-se a subnotificação. Algumas regiões escapam marcadamente a essa tendência, como é o caso de África, em consequência de um surto de elevada dimensão na República Democrática do Congo (RDC), ativo desde o final de 2023. Este surto, predominantemente causado pelo vírus mpox do clade Ib e cuja disseminação tem ocorrido principalmente na sequência de contactos sexuais, tem vindo a expandir-se a países geograficamente próximos da RDC, como o Burundi, o Quénia, o Ruanda e o Uganda, e levou a OMS a declarar novamente a mpox como emergência de saúde pública de interesse internacional. Adicionalmente, em meados de agosto, foi notificado o primeiro caso de infeção por mpox do clade Ib em território europeu, num adulto que regressou de uma viagem a um país africano onde foi reportada a transmissão deste clade.
O aumento dos casos de mpox devidos ao vírus do clade I e a expansão geográfica no continente africano aumentam o risco de que venham a ser introduzidos novos casos na Europa. Tal como aconteceu com o surto global de mpox do clade IIb, a transmissão sustentada interpessoal através de contactos sexuais tem contribuído para a disseminação do clade Ib. Presume-se que o grau de subnotificação seja substancial e que esteja já a ocorrer transmissão comunitária do clade Ib nos países afetados, o que contribui para acentuar o risco de disseminação. Por outro lado, ainda não existe evidência sólida acerca de modos de transmissão e risco de transmissibilidade, consequências clínicas, fatores de risco para doença severa, bem como eventuais diferenças nestes aspetos entres os clades Ia e Ib. Deste modo, as autoridades de saúde recomendam a continuação da vigilância e a sensibilização dos profissionais de saúde e da população para o risco de surgimento de novos casos na Europa relacionados com viagens.
De acordo com a avaliação realizada pelo ECDC, os cidadãos europeus que viajem para países afetados e que desenvolvam atividades que impliquem um contacto próximo com as comunidades locais apresentam um risco elevado de contrair infeção pelo clade Ib, bem como os seus contactos próximos, sendo que se encontram em particular risco as pessoas com condições clínicas que comprometam o sistema imunitário. No caso de viajantes sem contacto próximo com as comunidades afetadas, o risco é considerado baixo. No contexto atual, o ECDC considera que a probabilidade de infeção na população geral europeia é muito baixa, partindo do pressuposto que eventuais casos importados sejam prontamente diagnosticados e que sejam implementadas medidas de controlo adequadas.
Em face dos eventuais riscos decorrentes da crescente disseminação do vírus mpox do clade Ib é importante que os farmacêuticos permaneçam informados acerca da evolução do surto pelo vírus mpox no continente africano, do reporte de casos em território europeu e das orientações emitidas pelas autoridades de saúde, de modo a prestarem o melhor aconselhamento e encaminhamento na presença de eventuais casos suspeitos, e a reforçarem a sua intervenção junto de utentes com risco acrescido de contraírem a infeção, informando-os acerca das medidas preventivas adequadas, nomeadamente dos benefícios da vacinação como medida de proteção pessoal e de controlo da transmissão do vírus mpox na comunidade. Apesar de se supor que as vacinas e os antivíricos que têm sido utilizados na infeção por mpox do clade II também sejam eficazes contra o clade I, os dados científicos em contexto real ainda não permitem confirmá-lo. Não obstante, a vacinação constitui uma importante medida preventiva para os grupos populacionais em maior risco de contrair mpox e é recomendada a todos os indivíduos elegíveis e ainda não vacinados, bem como em contexto pós-exposição, de acordo com as orientações nacionais.
REFERÊNCIAS CONSULTADAS:
5. Direção-Geral da Saúde. Mpox em Portugal e no Mundo. Informação a 31 de julho de 2024.
REFERÊNCIAS CONSULTADAS:
1. Joint ECDC-WHO Regional Office for Europe Monkeypox Surveillance Bulletin: 15 August 2024.
2. World Health Organization. 2022-24 Mpox (Monkeypox) Outbreak: Global Trends. Produced on 02 August 2024 [acedido a 20-08-2024]. Disponível em:
3. European Centre for Disease Prevention and Control. Risk assessment for the EU/EEA of the mpox epidemic caused by monkeypox virus clade I in affected African countries – 16 August 2024. ECDC: Stockholm; 2024.
4. European Centre for Disease Prevention and Control. Communicable disease threats report, 10-16 August 2024, week 33. 16 Aug 2024
5. Direção-Geral da Saúde. Mpox em Portugal e no Mundo. Informação a 31 de julho de 2024.