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Mpox (infeção pelo vírus Monkeypox) – O que é, como se transmite, como a prevenir
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O que é a mpox?
A mpox, à qual inicialmente se chamava "varíola dos macacos”, é uma infeção causada por um vírus designado monkeypox.
A mpox é uma doença zoonótica, o que significa que se pode transmitir de animais para humanos. É ainda desconhecido quais os animais que podem transmitir o vírus, mas este tem sido identificado em mamíferos africanos de pequeno porte, como roedores e macacos. O vírus monkeypox pode também transmitir-se entre pessoas.
A mpox é uma doença recente?
A mpox foi identificada em pela primeira vez num humano em 1970, na República Democrática do Congo, sendo uma doença que existe de forma permanente em algumas regiões de África. O primeiro relato da sua ocorrência fora do continente africano ocorreu em 2003, nos Estados Unidos da América, e esteve relacionado com a importação de animais infetados.
Em maio de 2022 foi identificado um surto de grande dimensão em múltiplos países de vários continentes, que se propagou devido a transmissão entre pessoas. Este surto levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar esta doença uma emergência de saúde pública de interesse internacional, declaração que terminou em maio de 2023, após acentuada diminuição do número de casos.
Em 2023 foi identificado novo surto na República Democrática do Congo, que se tem vindo a expandir para países geograficamente próximos, como o Burundi, o Quénia, o Ruanda e o Uganda. Em agosto de 2024 foi identificado o primeiro caso na Europa relacionado com este surto e, na mesma altura, a OMS voltou a declarar a mpox uma emergência de saúde pública de interesse internacional.
Quais as principais caraterísticas do vírus monkeypox?
Este vírus pertence a uma família de outros vírus que causam doenças em humanos, nomeadamente a varíola, que foi erradicada no final do século XX (1980). Estes vírus são muito resistentes a condições ambientais adversas, mas sensíveis aos desinfetantes habitualmente utilizados.
Existem dois subgrupos deste vírus, que se denominam clades I e II, ambos com subclades a e b, distinguidos pelas suas diferenças genéticas. Pensa-se que estas sejam a razão para diferenças na gravidade da doença causada por um ou outro clade. O subclade IIb, caraterizado por causar sintomas ligeiros, é o responsável pelo surto iniciado em 2022. O clade I tem sido associado a sintomas mais graves. O subclade Ib tem sido o principal implicado no surto de 2023; contudo, as informações recolhidas até à data não confirmam que cause sintomas mais graves. Em agosto de 2024 foi identificado o primeiro caso europeu causado por este subclade.
Como se transmite a mpox?
O vírus monkeypox entra no corpo humano através de lesões na pele, ou pelas membranas mucosas (olhos, boca, nariz, zonas genitais).
Vias comprovadas de contágio, incluem:
- Contacto com a pele, fluidos corporais ou lesões de animais infetados, mordeduras, arranhões, ou ingestão da sua carne;
- Contacto físico próximo e direto com as lesões ou fluidos corporais de uma pessoa infetada, o que pode ocorrer, por exemplo, durante relações sexuais.
- Transmissão por via respiratória, por exposição a tosse ou espirros de uma pessoa infetada, ou por contacto face a face direto e prolongado.
- Contacto da pele lesionada ou das mucosas com objetos contaminados, como roupa, roupa de cama, atoalhados, objetos como talheres, pratos ou outros utensílios de uso pessoal, agulhas ou material de tatuagem.
- Durante a gravidez ou o parto.
A principal via de transmissão dos casos associados ao surto iniciado em 2022 tem sido o contacto sexual, principalmente em homens que praticam sexo com homens. O surto de 2023 está igualmente relacionado com a transmissão entre pessoas.
Uma pessoa infetada pode transmitir a doença desde quatro dias antes do aparecimento de sintomas e até que todas as suas lesões estejam curadas e a pele regenerada.
Os animais domésticos não constituem uma via de transmissão. Contudo, é preferível que uma pessoa infetada, tenha o mínimo contacto possível, ou se mantenha isolada do seu animal de estimação, pois existe a possibilidade de que lhe transmita a infeção.
Este vírus não é transmitido através da picada de mosquito ou outros insetos.
Quais os principais sintomas da mpox?
O período entre o contágio e a manifestação de sintomas – período de incubação, é geralmente de 7-8 dias, podendo ser inferior, ou demorar até 21 dias.
Os sintomas mais habituais incluem:
- Lesões na pele ou mucosas, inicialmente planas e que evoluem para "bolhas” contendo líquido, formando finalmente úlceras e crostas.
- Febre
- Dores de garganta
- Dores de cabeça
- Dores musculares e nas costas
- Cansaço
- Aumento dos gânglios linfáticos.
- Queixas na zona genital e/ou anal.
As lesões na pele podem surgir antes ou depois dos outros sintomas e o seu número é variável. A maioria das pessoas afetadas pelo surto iniciado em 2022 desenvolveram menos de 20 lesões; contudo, algumas podem apresentar apenas uma lesão, e outras mais de 100. As lesões podem estar distribuídas pelo corpo ou localizarem-se apenas numa determinada zona.
A gravidade da doença depende da estirpe do vírus, da quantidade e modo da sua transmissão e da suscetibilidade da pessoa infetada.
Os dados recolhidos pelas autoridades de saúde mostram que as caraterísticas dos casos relacionados com o surto iniciado em 2022 são diferentes das que a doença apresenta nos países africanos onde existe permanentemente. A maioria das pessoas apresenta sintomas ligeiros a moderados que duram habitualmente entre duas a quatro semanas e não requerem tratamento. Alguns sintomas mais graves e certas complicações requerem hospitalização, mas as complicações sérias são raras e os casos fatais são esporádicos.
O que posso fazer para evitar contrair mpox?
As pessoas em maior risco de contrair esta infeção são os parceiros sexuais ou outras pessoas que coabitem com uma pessoa com mpox, bem como profissionais de saúde envolvidos no seu tratamento.
O surto global que se iniciou em 2022 tem-se propagado por transmissão entre pessoas, relacionada principalmente com contactos sexuais. Alguns grupos populacionais têm sido especialmente afetados, nomeadamente homens que praticam sexo com homens e que tenham múltiplos parceiros sexuais, pessoas envolvidas em sexo comercial, entre outras práticas. Considera-se, por isso, que estas pessoas estão em maior risco de exposição ao vírus monkeypox.
Existem medidas gerais de autoproteção que minimizam o risco de exposição ao vírus monkeypox e que devem ser adotadas por todas as pessoas, tais como:
- Evitar o contacto pele a pele, com mucosas, ou face a face (menos de um metro) com qualquer pessoa que tenha sintomas;
- Evitar o contacto com fluidos corporais de pessoas infetadas, com objetos potencialmente contaminados, como utensílios, louça, roupa, toalhas, roupa de cama, ou com superfícies que possam ter estados expostas a fluidos ou secreções respiratórias;
- Manter uma boa higiene das mãos (com lavagem com água e sabão ou com utilização de soluções hidroalcoólicas) e as regras de etiqueta respiratória;
- Praticar sexo seguro; contudo, os preservativos não protegem totalmente contra a mpox, uma vez que o contágio pode ocorrer por contacto próximo de pele com pele;
- Caso viaje para zonas de África (oriental, central e ocidental) onde a doença existe permanentemente, há que evitar o contacto com animais – domésticos, em cativeiro ou selvagens, e ingerir ou tocar na sua carne.
Suspeito ter estado em contacto com uma pessoa com mpox - o que devo fazer?
Caso tenha estado em contacto com uma pessoa com mpox ou se apresentar sintomas sugestivos de mpox, deverá contactar as autoridades de saúde para que seja avaliado por um médico. Este irá realizar um exame clínico e averiguar possíveis exposições de risco. Na sequência desta avaliação poderão ser necessárias análises laboratoriais para confirmar a presença de infeção.
Após contacto físico próximo com uma pessoa com mpox, há que ficar atento ao surgimento de algum sintoma ou lesão e adotar certas precauções durante 21 dias, tais como:
- Evitar contactos físicos próximos com outras pessoas, como relações sexuais;
- Não partilhar roupas, roupa de cama, ou toalhas;
- Reforçar as medidas gerais de higiene e lavar as mãos com maior frequência;
- Verificar a temperatura corporal duas vezes ao dia;
- Evitar contacto direto com animais de estimação.
Existe tratamento para a mpox?
O tratamento consiste essencialmente no alívio dos sintomas, como a febre, a dor e a comichão, manter uma ingestão adequada de líquidos e a prevenção ou tratamento de complicações, como infeções bacterianas secundárias.
Casos graves podem ser tratados com antivíricos, entre os quais se incluem o tecovirimat, o único que tem aprovação na União Europeia para tratamento desta infeção.
Já existe vacina contra a mpox?
Existe uma vacina que protege contra a mpox, contra a varíola e contra a doença causada por vírus Vaccinia, que são doenças causadas por vírus semelhantes, pertencentes à mesma família. Esta vacina mostrou ser segura e eficaz na proteção contra a infeção pelo vírus monkeypox.
Posso receber a vacina contra a mpox?
Esta vacina não está recomendada para todos os cidadãos. A sua administração está reservada para pessoas que cumpram critérios que as coloquem em risco acrescido de contrair a infeção. Para os grupos populacionais em maior risco, a Direção-Geral da Saúde (DGS) implementou uma estratégia de vacinação contra a mpox, que tem duas vertentes:
- Vacinação pré-exposição - administração da vacina a pessoas pertencentes a grupos de risco acrescido e que não foram previamente infetadas;
- Vacinação pós-exposição – administração da vacina a pessoas que estiveram em contacto próximo com um caso confirmado, para evitar que venham a desenvolver a doença.
Para saber se pertence a um grupo de risco acrescido e onde se dirigir para receber a vacina, consulte o site da DGS, ou aconselhe-se com o seu farmacêutico. Este pode ajudar a esclarecer quaisquer questões ou dúvidas adicionais. Pode também orientá-lo acerca das medidas adequadas para evitar a doença e de como proceder caso tenha estado em contacto com uma pessoa infetada, ou se apresentar sintomas sugestivos de mpox.
