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Qual deve ser a duração da terapêutica com benzodiazepinas?

  • Breves Questões Terapêuticas
28 Fevereiro 2025
Qual deve ser a duração da terapêutica com benzodiazepinas?
 
- As benzodiazepinas são utilizadas no alívio da insónia e da ansiedade.

- 
O seu uso continuado está associado à indução de tolerância e dependência.

- A terapêutica com benzodiazepinas não deve prolongar-se por mais de quatro semanas.

As benzodiazepinas (BZD) são fármacos com propriedades ansiolíticas, sedativas, anticonvulsivantes e relaxantes musculares.1,2 As suas indicações mais comuns são o tratamento da insónia e da ansiedade graves, condições com impacto significativo na qualidade de vida e associadas a comprometimento funcional.1

Apesar da sua eficácia, rapidez de atuação e boa tolerância, as BZD podem causar efeitos adversos,2 mais frequentes e significativos em populações idosas, onde o seu uso é mais comum e prolongado.3 Entre os seus efeitos adversos incluem-se a sedação diurna, alterações da memória, risco aumentado de acidentes1-3 e quedas,2,3 diminuição da qualidade do sono e do tempo de reação.1 Nos indivíduos com mais de 65 anos está também descrita associação com o aumento da mortalidade.3

A sua toma continuada ao longo de algumas semanas2,4 pode induzir tolerância e causar dependência,1-4 mesmo quando usadas nas doses recomendadas.4 Por este motivo, as normas de boa prática convergem na recomendação de que seja utilizada a dose mais baixa eficaz de BZD durante um período curto e de desaconselhar o uso prolongado de BZD, devido à consequente dificuldade em descontinuar os tratamentos crónicos.1-4 Existe, contudo, uma grande divergência entre o que é indicado nas normas e a prática habitual,1,3 onde muitos utentes utilizam estes fármacos a longo prazo, em doses elevadas e para indicações mais ligeiras.1


Uso racional das benzodiazepinas

As abordagens de primeira linha para o tratamento da ansiedade ligeira e da insónia consistem em medidas não farmacológicas,1,2,4 como a terapia cognitivo-comportamental,1-3 o aconselhamento1,3 que, no caso da insónia, envolve medidas de higiene do sono, controlo de estímulos, entre outras.1,2 As BZD não são apropriadas para o tratamento da insónia transitória e ansiedade ligeira.1-4

De um modo geral, devido aos seus potenciais efeitos adversos e ao risco de tolerância e dependência, recomenda-se que o uso de BZD no tratamento da insónia e ansiedade graves se restrinja a períodos de curta duração, entre duas a quatro semanas, na dose mínima eficaz.1-4 

Caso seja equacionada terapêutica farmacológica para o alívio da insónia, é importante avaliar se existe alguma situação subjacente ao seu aparecimento. Caso a insónia seja consequência de uma condição aguda ou fator precipitante identificável, pode ser adequado o uso de BZD por um período curto.1,2 

A abordagem farmacológica de primeira linha dos transtornos de ansiedade consiste em antidepressores,2,3 nomeadamente os inibidores seletivos da recaptação da serotonina ou os inibidores da recaptação da serotonina e noradrenalina devido à sua eficácia e adequação a tratamentos e longa duração, particularmente quando existem sintomas de depressão concomitante.2 O uso de BZD deve estar limitado a doentes que não respondem a outras abordagens terapêuticas,3 como tratamento adjuvante em casos de ansiedade ou transtornos de pânico graves, especialmente em crises agudas que requerem uma resposta mais rápida1-3 ou durante o período inicial de tratamento com antidepressores;2,3 o seu uso em monoterapia é inapropriado.2 

A terapêutica de longa duração pode ser apropriada em casos raros de doentes com ansiedade ou insónia que não responderam a outras abordagens,1,2 sob a orientação de um profissional de saúde especializado,1 e nos doentes estabilizados num regime de manutenção, em dose fixa e com boa resposta clínica.2 Estes devem estar informados acerca dos riscos do uso prolongado de BZD1 e serem reavaliados periodicamente,1,2 tendo em vista a redução de dose ou cessação do tratamento, caso seja possível.2 

Referências bibliográficas:

1. Kennedy KM, O'Riordan J. Prescribing benzodiazepines in general practice. Br J Gen Pract. 2019 Mar;69(680):152-153. doi: 10.3399/bjgp19X701753.
2. Petersion G. A guide to deprescribing benzodiazepines. Primary Health Tasmania. December 2022 [acedido a 27-02-2025]. Disponível em: https://www.primaryhealthtas.com.au/wp-content/uploads/2023/03/A-guide-to-deprescribing-benzodiazepines.pdf
3. Tratamiento prolongado con benzodiacepinas en personas adultas con trastornos de ansiedade. Essencial. Publicada octubre 2016; Actualizada: mayo 2022 [acedido a 27-02-2025]. Disponível em: https://essencialsalut.gencat.cat/web/.content/minisite/essencial/fitxes_cercador/2022/essencial_benzodiacepinas_ansiedad_adultos_aquas2022.pdf
4. Reminder: Potential for abuse, dependence and withdrawal with benzodiazepines. Prescriber Update. June 2022; 43(2): 25–26. [acedido a 27-02-2025]. Disponível em: https://www.medsafe.govt.nz/profs/PUArticles/June2022/Reminder-potential-for-abuse-dependence-withdrawal-with-benzodiazepines.html