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Maioria dos hospitais com ruturas de medicamentos regulares
22 Novembro 2022
"Além do médico, enfermeiro, assistente social, nutricionista, que são profissionais que já estão na enfermaria a prestar cuidados aos doentes, faria todo o sentido - e está a acontecer noutros sistemas de saúde – termos o farmacêutico para fazer conciliação terapêutica, para ajustar doses", defende o representante dos administradores hospitalares.
A apresentação do trabalho realizado pela APAH decorreu no dia 18 de novembro, numa sessão que registou a participação da farmacêutica hospitalar Helena Catarino, membro do Conselho do Colégio de Especialidade de Farmácia Hospitalar da OF.
A representante dos farmacêuticos integrou o painel de comentadores às conclusões do estudo, do qual fez também parte o presidente do Infarmed, Rui Santos Ivo.
Helena Catarino reiterou a relevância das funções dos
farmacêuticos hospitalares para garantia da qualidade e do acesso aos
medicamentos em ambiente hospitalar. Destacou particularmente as
responsabilidades das Comissões de Farmácia e Terapêutica e articulação entre
hospitais e com o Infarmed para resolver problemas de ruturas de medicamentos.
Na sua opinião, os farmacêuticos estão sobrecarregados
com tarefas e funções do foro administrativo, que impedem a generalização de outros
serviços e valências, como a Consulta Farmacêutica. Pese embora todo o trabalho
da OF com os Serviços Partilhados Ministério da Saúde, muitos farmacêuticos
ainda não podem escrever as suas notas no processo clínico dos utentes, o que
impede a partilha de informação útil com outros profissionais envolvidos na prestação de cuidados aos doentes.
Helena Catarino deu ainda como exemplo a dispensa de medicamentos hospitalares em proximidade, assegurando o compromisso de farmacêuticos hospitalares e comunitários na manutenção da segurança, integridade e informação ao utente sobre a medicação prescrição.
A farmacêutica hospitalar realçou também o trabalho desenvolvido pela OF no desenvolvimento e reconhecimento de novas Competências Farmacêuticas.
Em declarações à comunicação social à margem do evento, o presidente da APAH sublinhou o papel nuclear dos farmacêuticos nas equipas de saúde. "Para além de termos o médico, enfermeiro, assistente social, nutricionista, que são profissionais que já estão na enfermaria a prestar cuidados aos doentes, faria todo o sentido – e está a acontecer outros sistemas de saúde – termos o farmacêutico para fazer conciliação terapêutica, para ajustar doses”, defendeu.
"Não existe nenhuma razão para que isso não aconteça no nosso sistema de saúde e nós queremos que a tutela atente nesta questão e que reforce os serviços farmacêuticos”, acrescentou.
O presidente da APAH considera que o farmacêutico tem "uma intervenção fundamental na reconciliação terapêutica”, explicando que Consulta Farmacêutica pode ajudar esclarecer os utentes sobre os medicamentos e dosagens que deve tomar, analisar eventuais interações e ajustar de acordo com a medicação prescrita em ambulatório e no hospital.
O Índex Nacional do Acesso ao Medicamento Hospitalar revela as ruturas de medicamentos ocorrem de forma regular em 73% das instituições: 32% são afetadas por ruturas mensais, 23% semanais e 18% diárias.
Em 27% dos casos, as ruturas dizem respeito a medicamentos genéricos. A grande maioria dos hospitais (86%) tem um departamento, núcleo ou pessoa responsável por solucionar os problemas relacionados com as ruturas, mas só em 27% é avaliado o impacto destas ruturas.
A maioria dos hospitais que responderam confessa que não faz
comparações efetivas entre terapêuticas, em contexto de doentes em tratamento
na instituição. Apenas 18% disse fazer uma recolha sistemática de dados sobre a
qualidade de vida dos doentes que tomam determinado medicamento.
A carga administrativa é a principal barreira ao acesso ao medicamento nos hospitais portugueses, que apontam ainda a falta de recursos para cumprir as regras de contratação pública, indica o estudo. O processo de aquisição via SPMS e o modelo de financiamento dos medicamentos foram outras das barreiras apontadas pelos hospitais ao acesso ao medicamento.
Os dados recolhidos junto das unidades hospitalares do SNS
mostram ainda que apenas 27% dos que responderam têm consulta farmacêutica,
sendo que, nestes, ela existe "apenas para alguns doentes”. As características
do doente, a patologia e a terapêutica são os principais critérios de seleção
dos doentes para a consulta farmacêutica.